sexta-feira, 16 de março de 2012

Cripta faz longa sobre Pixação

Na hora em que pichou uma obra da Bienal de São Paulo, há dois anos, Djan Ivson, o Cripta, foi enforcado por seguranças e arrastado para um quartinho no térreo do pavilhão no Ibirapuera. Levou uns socos, perdeu o fôlego, achou que fosse morrer --até que outro guarda o deixou fugir para o parque.

Agora ele quer contar detalhes daquilo que o catapultou à fama. Imagens inéditas do momento em que Ivson invadiu o viveiro de urubus montado pelo artista Nuno Ramos na Bienal e pichou "liberte os urubu" (sic) estão num vídeo na mostra "São Paulo, Mon Amour", no Museu Brasileiro da Escultura.

É uma espécie de trailer para um longa-metragem em pré-produção, escrito por ele, que conta a história dos pichadores na metrópole, gente "que anda sujo, sai sem um puto na carteira e passa por baixo da catraca no trem".


Mas é também gente que invade uma Bienal de São Paulo, depois volta pelas portas da frente como convidado, vai à Fundação Cartier, em Paris, onde Ivson expôs há três anos, vira tema de documentário, roteirista de filme, palestrante em escolas e acaba sendo escalada para a próxima Bienal de Berlim, para onde ele vai em abril.

Ivson foi de inimigo público, com dez processos de vandalismo nas costas, a queridinho de parte do mercado das artes e fetiche de curadores que tentam domesticar a fúria das ruas em ações controladas em museu e galeria.

Mas isso ele esconde no roteiro do filme, que deve custar R$ 8 milhões e teve os direitos comprados por um publicitário. Prefere exaltar os perigos da vida de pichador a narrar o glamour que conquistou. "Tem muita ação, aventura, o público entra em outro mundo, tipo 'Matrix'. É um olhar profundo da vida do pichador", diz ele. "E não vai ter um final feliz."

Esse final feliz aconteceu só na vida real, por enquanto. Ivson era o moleque rebelde que começou a pichar aos 12 anos em Barueri, na Grande São Paulo, e abandonou a escola na oitava série. Depois, virou porta-voz do "pixo" e celebridade da contracultura. Vive das vendas dos DVDs de suas ações e das palestras que dá em universidades.

POLÍTICA DO PIXO

Até hoje, ele é pivô do debate sobre o "pixo" que se estende no meio das artes desde que ele e um grupo de amigos picharam o andar que ficou vazio, por falta de verbas, na Bienal de 2008. Na época, os curadores da mostra tacharam a ação de "destrutiva" e "autoritária", comparando o caso a um "arrastão".

Dois anos depois, Ivson foi convidado como artista para a 29ª Bienal e não se contentou em mostrar vídeos de ações. "Tinha de ter conflito para ficar real", diz ele. "Não é só estar na Bienal. Pichação é guerrilha." Mas nem a curadoria nem Nuno Ramos, vítima da ação, prestaram queixas contra o pichador.

Na pose e no discurso, Ivson ainda encara a arte como luta de classes. Não é uma corrente estética que se opõe a outra, mas um estilo de vida e origem social em fricção com um circuito elitista.

"Nossa estética está sendo assimilada", diz Ivson. "Mas a gente só vai fazer pichação autorizada, sem quebrar as regras, quando a gente não tiver mais vergonha na cara."

SÃO PAULO, MON AMOUR
QUANDO de ter. a dom., das 10h às 19h; até 3/4
ONDE MuBE (av. Europa, 218, tel. 0/xx/11/2594-2601)
QUANTO grátis
CLASSIFICAÇÃO 16 anos